Wednesday, September 3, 2008

Monstros, de José Gil


"[...] o corpo do outro reflete a imagem do meu como num espelho. Mais: no seio da minha imagem de mim habita a imagem de mim vista pelo outro corpo, de outro ponto de vista (exterior: assim toda a visão - de toda a paisagem e de todos os corpos - implica o espelhamento da minha imagem numa coisa outra; e o espelhamento da sua imagem no meu corpo).
Aqui reside a figura do "duplo". O corpo normal é-o porque não está sozinho: com ele vive o seu duplo - como um corpo duplo subtil, um "simulacro" [...]. O meu duplo assegura-me a constância e a multiperspectivação da percepção; com ela construo a reversibilidade do meu tempo irreversível, e vivo um presente com extensão que, enquanto dura, dura para a eternidade. Por isso a morte, que me é tão intíma, está sempre tão longe como alheia à vida. Duplo latente que sou - dentro e fora de mim."

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