Thursday, May 22, 2008

Acamarrados_ de Enda Walsh

ACAMARRADOS de Enda Walsh
Tradução Joana Frazão
Com
Carla Galvão e António Simão
Cenografia e Figurinos
Rita Lopes Alves
Luz
Pedro Domingos
Direcção de Produção António Simão
Assistência Pedro Carraca


Destinos cruzados, no drama individual de cada um e nos eternos opostos entre dois seres que se encontram, ou são forçados a encontrar, em relação.

A relação, neste caso é de filiação.

O drama ou os dramas? Escorrem lentamente pelo discurso... a história que se vai dizendo.

Um pai que se queria mais... uma filha que se queria mais. Dois seres presos a uma cama... um porque descobre ter receio de viver... descobre recear o mundo exterior. O outro porque a doença física a isso obrigou, apesar da luta exasperada para sentir, para viver...

O pai... descendência humilde, lutou astuciosamente por uma melhor posição social, vendendo a sua busca individual de felicidade em troca de relações motivadas pelo interesse, pela vingança, pela necessidade de sucesso, a necessidade de se afirmar como superior. Um homem enclausurado na sua torre, mecaniza a sua existência na terra... confraterniza, para obter melhor posição, para cativar os clientes de uma loja de móveis para assim ter mais vendas. Casa para ter uma parceira nos seus jogos de confraternização - alguém que recebe os seus clientes, que cozinha... Tem sexo por interesse, para cativar um vendedor a vender-lhe mercadoria e para procriar e assim fazer frente a um negócio familiar nascente, no mesmo ramo.

A filha, uma mulher que num trágico acidente em criança, apanhou uma doença que lhe deforma o corpo e que passou 10 anos da sua vida, tendo como único estímulo a presença incansável de uma mãe que lê histórias, que sorri... e a vaga noção da presença de um pai, de quem a mãe fala e a quem ouve por vezes... O pânico das paredes que ficam mais próximas, cada dia mais próximas e um barulho constante de martelar. Descobre depois que o martelar e o aproximar das paredes foi obra do pai, que durante 10 anos, num acto de loucura, foi construindo paredes, até que por fim a casa se transforma num labirinto, em torno de uma cama apertada entre 4 paredes.

A história revisitada, torna-se história presente. Palavras que enchem o espaço vazio deixado pelo silêncio. Vazio que o homem procura, e que ela recusa...

O espaço vazio e oco da ausência das palavras... em que nada é...

O homem que quer cessar de existir... a mulher que quer (re)começar...

Acamarrados... amarrados a essa cama entre 4 paredes apertadas - o cenário da peça, que se mostra e esconde numa parede branca, que desce no início da peça, e sobe no fim... declarando esse retormo à cama e às paredes que nos prendem a todos...

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