Sunday, May 27, 2007

"Shortbus"

Nova York - a terra de todas as permissões... descobre-se como terra da
redenção de todos os pecados...

O pequeno e frágil ser humano assume traços de grandeza, numa perversão do real, que lhe é muito própria... num ir em busca do extremo de si mesmo, onde impera o individual incomunicável. Rasga-se a possibilidade do contacto. Vivemos hoje numa sociedade mais fria... porque vivemos hoje na busca individual da nossa esfera de ser própria, alheada do que é comum ao ser de cada humano...


Nova York - a cidade em que não há limites ao alcance da esfera, à exploração do eu. A terra dos "saudáveis" que se torna a cidade dos "não-saudáveis", por atrair a si homens contaminados pelos limites externos de uma moral, de um código comportamental, etc, interessados precisamente em ultrapassar esses limites, violando a ética... e simultaneamente violando-se a si próprios, por procurarem descobrir essa esfera não apartir de si...mas apartir de limites que se descobrem irreais (e logo infrutíferos para a descoberta do eu)... do pecado que se descobre possível e perdoado (na própria possibilidade de realização). O homem contaminado pela perversão da busca de uma liberdade, desde sempre sua... o homem que se que se perverte a si e à realidade que o envolve... pecando contra si mesmo, para se redimir do esmagamento do pecado que desconhece ainda ser ilusório... Pecado que o castrou e contaminou na raíz mais profunda do seu ser... o homem sofredor... o eterno homem sofredor... alheado da raiz da sua dor... em busca... eternamente em busca...



Este é o diálogo entrevisto entre um são - idoso, natural de Nova York... e um não são - jovem, novo nova yorquino, perfeitamente adaptado à esfera de acelaração e glamour, que tenta encontrar o seu par ideal através dos dados informatizados de um pequeno aparelho electrónico, de uso generalizado... "São" e "não são" cruzam-se derivado a um incidente entre o referido aparelho electrónico e pace-maker, num bar - "Shortbus", cuja principal atracção é a possibilidade de experimentar e exprimir livremente a energia sexual, nas suas diferentes expressões (- seguindo as palavras de uma personagem: "entre... e veja... voyerismo também é participar" ).



A sexualidade afirma-se como aspecto central na resolução individual... em torno da vivência e descoberta da sua sexualidade encontram-se personagens contraditórias... que se potenciam mutuamente nessa descoberta: uma sexóloga que nunca experienciou um orgasmo, um homosexual numa relação perfeita incapaz de se deixar penetrar (fisica e emocionalmente), uma prostituta sado-masoquista tímida...


"Shortbus" e a temática sexual são o pano de fundo ao desenvolver destas personagens e desenrolar de uma trama, que termina com a afirmação última da fraqueza e imperfeição de todo o ser humano num ambiente que extrema o kish, que permeia todo o filme. A entrada em cena de uma banda de cortejo, interrompe a canção melódica em que o gerente e dono do "Shortbus" (personagem dotada de grande clarividência) apresenta a sua teoria e visão da realidade, que é no fundo a conclusão do filme. A melodia mescla-se com a alegria da música do cortejo... Porque afinal de contas... "no fim"... "no fim" percebemos todos que nada importa... e percebemos o kish a uma escala única - a recusa da vanidade da existência pela afirmação plástica dessa mesma vanidade.











2 comments:

sophiarui said...

humm... pergunto-me quando verei textos como este num jornal? atira-te!!

abraço

Igor said...

Gostei!