Friday, August 10, 2007

Folia! - Mistério de uma noite de Pentecostes


Uma experiência espiritual, estética, gnoseológica, literária... teatral... Há para todos os gostos pronta a consumir, depois de prolongada mastigação...

Texto belissimo, rico em conteúdo(s), encenado num espaço místico e absolutamente arrebatador[Quinta da Regaleira - Sintra] ... Provavelmente a "fórmula de sucesso" que "fez" a peça...

A encenação não está tudo o que poderia ser... os actores não são tudo o que podiam ser... Ainda assim a peça vale, pela capacidade de envolvimento única que cria com o espectador... que mais do que ver, ou assistir à peça... vê-se jogado na peça... com as suas crenças, os seus medos, a sua vivência e visão sociais... vê-se desafiado a ser mais... a "libertar-se das amarras que nos prendem"... desafiar os limites da capacidade humana e realizar no corpo, o império do espírito...


Assim, mais do que a análise dos diferentes aspectos e espaços cénicos que compõem a peça... interessará talvez o silêncio em que cada indivíduo-espectador é tocado... o silêncio em que cada um silenciando, supera o silêncio e descobre o som de tambores que marcam o ritmo da soltura do corpo... numa pura celebração do espírito... em que se descobre a raíz profunda da folia...

Da descoberta de Sebastião como um ser especial... ao "encontro do sol e da lua" em que encontra a sua prometida com que celebra bodas... passando por um caminho povoado de imagens do mundo, sob a declamação de textos de autores portugueses como Agostinho da Silva, Camões, Pessoa... a cena dos diabos, a meu ver projectada para tomarmos impacto com toda a fealdade e fraqueza de cada um... depois desse apelo à libertação, quase deificador, com que a peça toma início... o contacto com a barca dos loucos... onde se comemora a loucura e o rídiculo profundo de cada ser... A peça compõe-se como uma manta de retalhos... em que o elemento unificador é a experiência mística do sujeito. que no fim é convidado a dançar - êxtase em que culmina a peça... Haja folia...
[foto: Sergio Santos]

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