Monday, March 23, 2009

O Cesto

«Pela milésima vez me preparo para ir visitar o meu marido ao hospital. [...]
Hoje será como todos os dias: lhe falarei, junto ao leito, mas ele não me escutará. Não será essa a diferença. Ele nunca me escutou. Diferença está na sua marmita que adormecerá, sem préstimo, na sua cabeceira. Antes, ele devorava os meus preparados. A comiuda era onde eu não me via recusada. [...]
Onde eu vivo não é na sombra. É por detrás do sol, onde toda a luz há muito se pôs.»

in O Fio das Missangas, Mia Couto

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